sábado, 2 de abril de 2011

Princípio do prazer x Princípio da realidade

Em 1911, o Dr. Sigmund Freud, escreveu um texto intitulado “Formulações sobre os dois princípios de funcionamento mental” que parece elucidar de maneira clara alguns aspectos importantes do desenvolvimento e funcionamento mental.
Ele inicia o texto dessa forma “… toda neurose tem como resultado e provavelmente, como propósito arrancar o paciente da vida real, aliená-lo da realidade”. Mais a frente escreve “os neuróticos afastam-se da realidade por achá-la insuportável – seja no todo ou em parte”.
O que torna um sintoma incompreensível não é exatamente a rejeição ou distorção clara e óbvia da realidade?
A pessoa que sofre de anorexia, embora magra, não se enxerga assim; o deprimido, que embora com qualidades, se enxerga empobrecido; o fóbico, que embora sem nenhum risco aparente, enxerga enormes perigos, e por aí vai…
O princípio do prazer-desprazer tem como propósito dominante alcançar prazer e evitar qualquer evento que desperte desprazer.
O princípio da realidade tem como propósito obter prazer através da realidade, fazendo uma alteração real na mesma, para que enfim se possa obter prazer.
Enquanto o principio do prazer desconsidera a realidade e age de maneira impulsiva (um bom exemplo disto são as paixões), o principio da realidade leva em conta a mesma.
No mesmo texto, Dr. Freud escreve que em função da realidade externa “a consciência aprendeu então a abranger qualidades sensórias, em acréscimo às qualidades de prazer e desprazer, que até então lhe haviam exclusivamente interessado”.
Em outras palavras, a realidade exige que o ser humano desenvolva a capacidade de tolerar a frustração de não satisfazer-se imediatamente através de ações impulsivas, o que implica em maior consciência.
Porém quando o indivíduo apresenta sintomas neuróticos, podemos observar que naquele aspecto o paciente afasta-se da realidade, pois a mesma entra em conflito com seus desejos, e desenvolve sintomas que na verdade são defesas contra este sofrimento, porém ineficazes para lidar com a realidade.
Os caminhos psíquicos que levam um indivíduo a desenvolver determinados sintomas e não outros são tortuosos e difíceis de serem mapeados. Na maioria das vezes o real conflito e o sofrimento estão muito escondidos, mas com certeza, eles estão lá… O papel da psicoterapia é identificar estes conflitos e ajudar o indivíduo a fortalecer-se para resolvê-los, pois somente um ego forte e bem desenvolvido pode tolerar frustrações.
                                                                                
Maria Cristina Possatto
Psicóloga e Psicanalista

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